quinta-feira, 31 de outubro de 2013

VIDAS SECAS


O título é do livro que o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953) escreveu em 1938 e que todo mundo conhece como uma das suas obras-primas do Modernismo e de toda a literatura brasileira. Um pungente documento humano e obra de arte acabada. Mas o que queremos dizer mesmo é que todos falharam conosco no inverno que não houve nos últimos dois anos, 12 e 13. e dizem que este período foi o mais seco de todo o meio século passado Os profetas das chuvas, São José e São Pedro decidiram por uma chuvinha aqui, outra ali, alguns açudes sangraram, mas a grande maioria dos sertanejos fica sem milho, feijão, mandioca e sem o mais precioso dos bens que caem do céu – a água. Estamos, por isso mesmo, à mercê do carro-pipa, que vende ou distribui um produto contaminado e perigoso à saúde do consumidor. As “otoridades” oficiais, discursam, salivam o nada e acabam explicando o fenômeno das águas frias ou quentes dos oceanos, na tentativa de esmiuçar o mau humor dos deuses. Ora, gentes finas. Vamos reler Graciliano. Seu livro foi escrito ontem. Nada mais triste, nada mais terrível que o sertão seco e suas implicações dramáticas. O governo Dilma mantém as chantagens eleitoreiras das cestas básicas, nossas casas e o tal de mais médicos. Segundo o Ibope (alguém acredita nele?), Dilma ganhará a reeleição logo no primeiro turno. O casamento político Marina-Eduardo Campos nada significou. Só Deus sabe quem será o cabeça da chapa. Seja lá quem for, os dois vão dar com os burros n´água. No Planalto e no Congresso todos vivem em formidáveis gargalhadas, e a literatura de cordel jamais foi tão engraçada e tão versátil. Escutem os violeiros. O que não dá pra rir, dá pra chorar. Quanto a Lula, permanece no comando da corrupção, de norte a sul, de leste a oeste. Seus oito anos de governo bateram um recorde de pilantragem. Se escapou do escândalo do mensalão por falta de provas, não escapará do julgamento da História.

CELIBATO

  Nesta pátria que nos pariu, todos se divertem com infortúnio alheio. Até o amor se diverte com aqueles que criam a mulher imaginária. Depois mandam que o criador a procure. Se este a encontra, não a reconhece, porque a enfeitou demais. Se não a encontra, desespera-se e acaba sem ter companhia. Isso explica a razão por que muitos celibatários andam por aí, a falar sozinho.

GRANDE LIÇÃO

 Se os dorminhocos soubessem o que perdem por não acordar cedo, não continuariam na preguiça da cama, com a janela ou a cortina impedindo a claridade nova que vai crescendo no horizonte. E é sempre uma festa de cores, ainda que por cima dos malditos espigões. É dessa luz que vem o meu bom humor. A natureza, ao despontar do dia, sempre nos dá, como agora, no momento em que escrevo, sua lição mais bela: faz a mesma coisa sem se repetir.

SAMMY DAVIS JR

  Corro a avenida do computador e dou com ele, num velho filme dos velhos tempos. O crioulo era simplesmente genial. Cantava, dançava, pulava, fazia imitações de Jimmy Stewart, Cary Grant, Jimmy Cagney, relativamente fáceis para um profissional da mímica. Mas seu Marlon Brando parava a festa. Sammy, feio como o pecado, reproduzia à perfeição cômica a inflexão perplexa de Marlon, bonito como um deus. A vitalidade do incrível crioulo assombrou o mundo nos anos 60.

FUMAR É UM PRAZER

  É o que diz um velho tango, com muitas versões. Será? Não sei. Nunca fumei, e lembro apenas Nora Ney a cantar De cigarro em cigarro, um clássico de Luís Bonfá: Outra noite esperei / Outra noite sem fim / Aumentou meu sofrer / De cigarro em cigarro / Olhando a fumaça no ar se perder... Os fumantes garantem que o cigarro é também um companheiro da nossa solidão. E finalmente o cigarro é ter alguma coisa para fazer, como arranjar um câncer no pulmão. Mais e mais não temos o que fazer. A tecnologia eliminou, em grande parte, o trabalho braçal. A informática, o mental.

MEMÓRIA


Governador do Ceará pela segunda vez (1979-1982) – a primeira foi entre 1963-1966 – Virgílio Távora estava no gabinete, quando entra um aspone qualquer, doido por uma puxada, algo que VT detestava. Pediu licença e mostrou um livro em que o autor, lá pras tantas, espinafrava o governador. Atento ao trabalho que fazia, Virgílio apenas perguntou em que página estava o texto. O aspone abriu o livro e apontou: “Aqui, na página 12.” Virgílio nem olhou e pediu o nome do escritor. O aspone disse, fazendo cara de nojo. E o governador, sem tirar os olhos do trabalho que fazia, disparou: “Doutorzinho, com um autor desse o leitor sequer chegará à página 10. Jogue isso no lixo”. 

 O assessor de imprensa de VT era o amigo e colega Rangel Cavalcante, há muitos anos radicado em Brasília e que todos os domingos era meu vizinho no caderno Gente, coordenado pela colunista Regina Marshall, no Diário do Nordeste, com suas notícias políticas e fina ironia. E lá ele continua. É um patrimônio do jornalismo cearense, e a ele, todos nós, seus colegas, devemos muito, Mas isso eu conto depois. Virgílio, nascido em Fortaleza, morreu em São Paulo em 3 de junho de 1988, aos 69 anos, vítima de câncer na próstata quando cumpria seu mandato de senador. Foi o maior político do Ceará de sua geração, descendente da ilustre família Távora, de raízes em Jaguaribe, da Microrregião do Vale do Jaguaribe, palavra que, em língua indígena, significa “rio das onças”, conforme nos ensina o saudoso e querido amigo Dorian Sampaio, no seu livro Municípios do Ceará, em sua 4ª edição, página 86, de 1987.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

NORDESTE



Aqui, em nosso sofrido Nordeste, a ideologia vigente é o raspa-barril, cada um por si e os outros que se danem. A região está, há séculos, em um darwinismo niilista que é a única regra do jogo. Ó Deus, onde Te escondes?

JORNALISMO

Jornalismo é a segunda mais antiga profissão. Jornalismo está num baixo tremendo. Oscila de tentativas de agradar da ralé à propaganda. É o jornalismo-rinoceronte. Bajular a massa não a ensinará a ler. Deve haver muita gente que gostaria de ler palavras civilizadas. Não está sendo atendida.

Os ingleses (a Inglaterra é a mãe do jornalismo), talvez por serem predominantemente empíricos, usaram o jornalismo para tudo. Shaw é o melhor exemplo (é irrelevante que seja irlandês, fez a vida e fama na Inglaterra). Escreveu sobre música, teatro, política, economia, religião, sexo etc.

No Brasil, seria mal recebido pelos nossos acadêmicos, os quais desprezam o jornalismo, como incompleto e superficial.

MAIS BELO





Diz Balzac que nada há mais belo do que fragata à vela, cavalo a galope e mulher dançando. Há, sim, mestre Honoré  de  Balzac: criança feliz.

O ENGANADO

Tem gente assim: não lê os livros, mas as críticas dos livros. E cita os livros, como se os houvesse lido. Daí a exorbitância de suas leituras, em algumas línguas. Com isso, engana os tolos, e o tolo mais enganado é ele próprio, que não sabe o que perdeu.

PALAVRA SAGRADA

A Palavra Sagrada me acha, que não acredito em coisa alguma, nada mais é que sintaxe e gramática de lavra humana. As palavras estão longe de cobrir nosso mundo sensorial e espiritual. Foi um momento de extraordinária auto-introspecção na história da filosofia e da vida humana. Quem quiser me acompanhar nesse raciocínio, acompanhe. Quem não quiser chute pedra!

SUPERMINISTERIO


Enquanto escrevo o blog, nesta manhã, o problema de completar o ministério  foi resolvido. São 39 cadeiras ministeriais. Eu disse 39, perto de  chegar às 40 da Academia Brasileira de Letras, a famosa Casa dos 40.

O que se pode esperar de um governo com 39 ministros? JK tinha apenas 12. Getúlio, 13. Sarney chegou aos 23, organizado por Tancredo, e fez uma administração desastrosa. (Você foi “fiscal do Sarney”? Suicide-se!!!)

Por que Dilma não cria o 40º? Por exemplo, o Ministério da Fiscalização Presidencial? Poderia ser ocupado pelo honrado Zé Dirceu, e ela finalmente aprenderia a diferença entre talento e quantidade.


Dirceu é o autor da famosa frase: “Todo Pooddle é um cachorro, mas nem todo cachorro é um Pooddle.”

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Seca medonha

 Há 50 anos o Nordeste não tinha seca igual à que está aí. Não há água nem para batismo. As providências do governo para atenuá-la são as de sempre – nenhuma. A presidente Dilma junta-se aos industriais da seca e vai de reles paliativos, cravados no interesse eleitoreiro. Contra o que vem de cima não há nada a fazer, e a água do poço não serve nem para o homem nem para os bichos.  Seca medonha em todo o Nordeste. Aqui, nesse sofrimento, a ideologia vigente é o raspa-barril, cada um por si e todos por ninguém. A região está, há séculos, em um darwinismo niilista que é a única regra do jogo. Óh Deus, onde te escondes?

Jornais

 O jornalismo do doa em quem doer está no fim. Está num baixo tremendo. Oscila de tentativas de agradar da ralé às elites. É o jornalismo-rinoceronte. Bajular a massa não a ensinará a ler. Deve haver muita gente de ler palavras civilizadas. Não é atendida. Os ingleses (a Inglaterra é a mãe do jornalismo), talvez por serem predominantemente empíricos, usaram o jornalismo para tudo. Bernard Shaw (1856-1950) é o melhor exemplo. É irrelevante que seja irlandês. Fez a vida e fama na Inglaterra (Nobel de literatura em 1925) e foi um dos escritores mais importantes do século XX. Escreveu sobre música, teatro, política, economia, religião, sexo, etc. No Brasil, seria mal recebido pelos nossos acadêmicos, os quais desprezam o jornalismo, como incompleto e superficial.

Quem morreu hoje?

 Conheci um idoso, até simpático. A gente se encontrava vez por outra, sempre na mesma livraria. Era infeliz, pelo que eu sabia a seu respeito, e ele mesmo pouco se lixava em mostrar sua infelicidade. Já passava dos 80 anos. Ou seja, bem além do termo da vida previsto pelas Escrituras. Irá aos 90. Quem sabe, aos 100. Entretanto, longe de ser um prêmio, a vida para ele é um castigo. Veio ao mundo para testemunhar as vitórias alheias, e isso o maltrata, o machuca, tira-lhe o sono. 

 Só tem um consolo – acompanhar o enterro de seus contemporâneos. De manhã, quando abre o jornal, vai diretamente à página do obituário, para ver quem deu baixa. Ganhou o dia, se tem velório à vista. Abre um largo sorriso. Todos o conhecemos. Dou-lhe o nome? Não. Não merece.

Descrença

 O mundo endoidou. Já não dá para crer em mais nada, e eu não creio sequer na Palavra Sagrada, que nada mais é do que sintaxe e gramática de lavra humana. As palavras estão longe de cobrir nosso mundo sensorial e espiritual. Foi um momento de extraordinária auto-introspecção na história da filosofia e da vida humana. Quem quiser me acompanhar nesse raciocínio, acompanhe. Quem não quiser, chute pedra!

A moenda

 Eis um dos mais belos sonetos que conheço. O autor é o poeta piauiense Da Costa e Silva, nascido na cidade de Amarante, a 160km de Teresina, onde estudou o primário e o antigo ginásio. Ele é o autor da letra do Hino do Piauí (“Piauí, terra querida / Filha do sol do Equador”...), chamava-se Antônio Francisco da Costa e Silva. Nasceu em novembro de 1885, formou-se advogado em Recife, foi funcionário graduado do Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1950, aos 65 anos. Membro da Academia Piauiense de Letras e consagrado Príncipe dos Poetas Piauienses, o soneto é simplesmente genial. Leiam e julguem:



Na remansosa paz da rústica fazenda
À luz quente do sol e à fria luz do luar 
Vive, como a expiar uma culpa tremenda
O engenho de madeira a gemer e a chorar 

 Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda 
E ringindo e rangendo a cana a triturar 
Parece que tem alma, adivinha e desvenda 
A ruína, a dor, o mal que vai talvez causar... 

 Movida pelos bois tardos e sonolentos 
Geme, como a exprimir, em doridos lamentos 
Que as desgraças por vir sabe-as todas de cor 

 Ai! dos teus tristes ais! Ai! moenda arrependida! 
Álcool! Para esquecer os tormentos da vida 
E cavar, sabe Deus, um tormento maior!