quinta-feira, 31 de outubro de 2013

MEMÓRIA


Governador do Ceará pela segunda vez (1979-1982) – a primeira foi entre 1963-1966 – Virgílio Távora estava no gabinete, quando entra um aspone qualquer, doido por uma puxada, algo que VT detestava. Pediu licença e mostrou um livro em que o autor, lá pras tantas, espinafrava o governador. Atento ao trabalho que fazia, Virgílio apenas perguntou em que página estava o texto. O aspone abriu o livro e apontou: “Aqui, na página 12.” Virgílio nem olhou e pediu o nome do escritor. O aspone disse, fazendo cara de nojo. E o governador, sem tirar os olhos do trabalho que fazia, disparou: “Doutorzinho, com um autor desse o leitor sequer chegará à página 10. Jogue isso no lixo”. 

 O assessor de imprensa de VT era o amigo e colega Rangel Cavalcante, há muitos anos radicado em Brasília e que todos os domingos era meu vizinho no caderno Gente, coordenado pela colunista Regina Marshall, no Diário do Nordeste, com suas notícias políticas e fina ironia. E lá ele continua. É um patrimônio do jornalismo cearense, e a ele, todos nós, seus colegas, devemos muito, Mas isso eu conto depois. Virgílio, nascido em Fortaleza, morreu em São Paulo em 3 de junho de 1988, aos 69 anos, vítima de câncer na próstata quando cumpria seu mandato de senador. Foi o maior político do Ceará de sua geração, descendente da ilustre família Távora, de raízes em Jaguaribe, da Microrregião do Vale do Jaguaribe, palavra que, em língua indígena, significa “rio das onças”, conforme nos ensina o saudoso e querido amigo Dorian Sampaio, no seu livro Municípios do Ceará, em sua 4ª edição, página 86, de 1987.