sábado, 22 de janeiro de 2011

IRONIA DE VIRGÍLIO

Governador do Ceará pela segunda vez (1979-1982) – a primeira vez foi no período 1963-1966 --  Virgílio Távora estava no gabinete, quando entra um aspone qualquer, doido para uma puxada. Pediu licença e mostrou um livro, onde o autor espinafrava Sua Excelência.

 Atento ao trabalho que fazia, Virgílio apenas perguntou em que página estava o texto. O aspone abriu o livro e apontou: “Aqui, na página 12.”  Virgílio nem olhou e perguntou o nome do autor. O aspone disse. E o governador, sem tirar os olhos do trabalho que fazia, disparou:

--  Ora, doutorzinho, com um autor desse o leitor sequer chegará à página 10. Jogue isso no lixo...

FILMES

Um grande filme nos marca pela afeição. E isso é o que ocorre quando Vivien Leigh não quer mais ser enfermeira, em ...E o vento levou  e sai na praça cheia de mortos e feridos do Sul confederado. Ou quando Judy Garland, com Totó, seu cachorrinho, sai do tufão no que não sabe ser a Terra de Oz e diz: “Isso não é Kansas, Totó”, ou Marlon Brando com Rod Steiger, no táxi cobrando sua condição de irmão.

Essas tomadas, como tantas outras, habitam-nos a alma enquanto vivemos. Pena que hoje, com medo da violência que rouba vidas preciosas, a maioria das pessoas que conheço não vai mais a cinema há muito tempo. Preferem suportar os filmes da TV, com suas horrorosas exibições.  E eu não consigo encontrar quem me venda Em cada coração um pecado. Algum leitor pode me ajudar?

O PRESIDENTE


Lula foi pra casa sem conseguir meter na cabeça vaidosa, quase alienista, que o presidente é a maior vitrine do país. Suas atitudes e comportamento têm de ser irrepreensíveis. Ele não é um cidadão comum – é uma instituição. Nos Estados Unidos classificam o presidente em três tipos: o Salvador, o homem messiânico; o presidente Satanás, o patológico, diabólico, maquiavélico; e o Sansão, o fraco. O que será de Obama?

LINGUAGEM

Em política, a palavra é parte da ação. Graciliano Ramos contava que a revolução socialista fracassara em grande parte por causa do português. É que a mensagem de Lênin “Operários de todo o mundo, unidos”  no Brasil foi traduzida para “Operários, uni-vos”.

Acontece que ninguém entendia o que era “uni-vos”. Daí a conclusão do mestre de Vidas Secas de que o português, à falta de um bom tradutor, um bom “língua”, como diziam os escritores da Conquista, fizera fracassar a doutrinação comunista.

MORRER DA AMOR



Leio em Nélson Rodrigues que é fácil morrer por uma mulher. O difícil – acrescenta – é viver com ela. Machado, depois de ser feliz quase toda a vida com a sua Carolina, morreu por ela, na solidão que se fechou à sua volta e para a qual só teve, como remédio, o consolo  de seus textos geniais. Sofreu muito nos quatro anos de viuvez

BRASIL/SUÉCIA

O atual grupo que ocupa o poder há um mês e meio já atua como se estivesse no final de governo. Tirante a empolgação desde que subiu a rampa – que tem servido de biombo para a ineficiência e a negação das promessas eleitorais – dou um doce a quem apontar um projeto relevante em execução.

Dilma jamais terá condições de cumprir suas promessas básicas, que foram tantas e algumas impossíveis. Ela não poderá convencer a nação de que teremos de ser uma Suécia. E uma Suécia, como promete a petista, não pode ser feita da reforma do Estado. Evidente que, se o Brasil chegar a ser institucionalmente uma Suécia, as promessas da campanha não precisarão ser feitas nem cumpridas.

Algumas medidas adotadas, de caráter moralista e a título de conter despesas absurdas, merecem aplausos, mas não têm nada a ver com desenvolvimento. São mais chegadas ao impressionismo. E isso não gera emprego, saúde, educação, segurança. Como há muito chão a percorrer, vale um voto de confiança à ex-guerrilheira.

LER, RELER, TRESLER

Na minha coluna dominical do Diário do Nordeste, a propósito de um livro, escrevi que “o li, reli e tresli”. Alguns leitores, por e-mail, entenderam que tresler é ler três vezes ou pela terceira vez. Nossa tendência natural é supor exatamente isso. Mas tresler não é ler pela terceira vez.

O Aurélio diz: tresler – Verbo intransitivo. 1. Ler às avessas. 2. Perder o juízo, enlouquecer, por ler muito. 3. Dizer ou praticar tolices. 4. Enganar-se, errar.

A sequência dos verbos, no texto que escrevi, dá a impressão de que foi nessa acepção que o empreguei. Mas não. Tresler não é ler três vezes.  É ler errado. E ninguém lê errado para achar o despropósito. No caso, o despropósito é o próprio tresler.

ALZHEIMER


As manchetes sensacionais sobre AIDS escondem o fato de que a mais séria epidemia do nosso tempo é outra. É a doença de Alzheimer (nome do médico que a descobriu). Destrói as células do cérebro, eliminando a memória e a coerência.

Há, no momento, segundo o Centro de Controle de Doenças de Atlanta, nos EUA, oito milhões de vítimas dessa doença cruel, enquanto a AIDS matou cerca de 70 mil pessoas nos EUA em 2010.

Como de costume, os médicos não têm a menor idéia das causas de Alzheimer. Sabem que dá muito em gente de uma certa idade. A vítima tem de ser tratada como criança e, ao mesmo tempo, tendo perdido a memória, nem ao menos estabelece a ponte de contato humano com quem a trata.

INCOMPARÁVEL

Não há nada remotamente comparável a Fred Astaire (1899-1987), austríaco radicado nos EUA. Dançando com uma vassoura ou mesmo cantando, ele sempre foi uma delícia. Um estilo que se foi, mas reverbera. Quilos de compositores dedicaram músicas a ele, cuja fama maior é outra, naturalmente. Aquela gentileza dele, feminina sem ser efeminada, revive em modernos como Chet Baker e João Gilberto.

Apesar de ter dançado ao lado de grandes damas do cinema,  como Rita Hayworth, Leslie Caron, Joan Crawford e Judy Garland, sua maior parceira foi a genial Ginger Rogers, com quem Fred fez 10 filmes. Eram dois demônios no palco. Meus Deus!  Como é possível dançar daquele jeito?

A CARTOMANTE

Coisas que nos chegam à cabeça como um estalo. Por exemplo: eu sempre achei que o historiador faz para o passado o que a cartomante faz para o futuro. Mas há uma diferença bem significativa: a cartomante fica sujeita a uma verificação; o historiador, não. Pode mentir à vontade que ninguém vai conferir.

E é a cartomante quem diz: “Abre bem os olhos antes de casar; mantém-nos semicerrados depois.”

FIDEL


E o velho Fidel não morre. Parece que viverá 200 anos. Com todo o carisma do ditador mais antigo do planeta, cedeu o trono ao irmão, que o obedece cegamente. Fidel, na verdade, adorado por muitos intelectuais brasileiros, é essencialmente um conservador feudal, um feitor de hacienda, a quem a idéia de renovações, de modernidade, horroriza. O diabo é o stalinismo brutal e caduco que o acompanha como uma sombra maldita.

ÉPICO

É indispensável a leitura de Os Sertões, de Euclides da Cunha. É culto e não é modelo de estilo. Seu livro é de gênio. Nos dá a realidade do sertão, que é, para efeitos políticos, o Brasil quase todo, tirando o Sul. A realidade do sertanejo, e do nosso atraso como civilização, como cultura, como organização do Estado. Está tudo ali com perfeição.

Euclides começou o livro para destruir o cearense Antônio Conselheiro e a Revolta dos Canudos, mas se deixou emocionar pela coragem e persistência dos revoltosos e terminou escrevendo um grande épico, em prosa, que o crítico e poeta americano Robert Lowell, que só leu a tradução, considera superior a Guerra e Paz, de Tolstoi. É majestoso e passional, ao mesmo tempo.

Vemos como nunca vimos e nunca mais veremos a condição humana desses pobres-diabos de Antônio Conselheiro. Contra a nossa vontade, sentimos a inevitabilidade de tudo aquilo e nos identificamos emocionalmente com os revoltosos.

VELOCIDADE

Já contei o episódio várias vezes, mas pode ser que não me tenham lido nenhuma vez. Fui um dia almoçar com o ministro Armando Falcão  (Fortaleza, 1919-Rio de Janeiro, 2009), deputado federal em 1950, ex-ministro da Justiça de JK e depois de Geisel, na fazenda dele, “Massapé Grande”, em Quixeramobim, a pouco mais de 200km de Fortaleza.

 Com todas as casas em branco e azul, o assoalho em madeira encerada, a centenária  fazenda é belíssima, e tem até capela e campo-de-pouso asfaltado. Foi um dia de grandes papos, eu só ouvindo. Ele defendia o nome de Aureliano Chaves (vice de Figueiredo) para a presidência da República, e a longa entrevista que lhe fiz foi publicada em duas páginas do Diário do Nordeste.

Ao deixar a fazenda, no entardecer,  para a viagem de volta, o ministro me levou até o carro. Sempre simpático e risonho, depois dos abraços, ele se volta para o motorista e observa:

-- Olha aqui, meu filho. Até aos 80km, o carro pertence ao motorista. Aos 100km, o motorista passa a pertencer ao carro. E acima disso, os dois pertencem ao diabo...

sábado, 15 de janeiro de 2011

FELICIDADE




Não lembro de quem é esta observação. Esqueci o nome do filósofo. Ele disse mais ou menos o seguinte: não pode ser feliz a mulher com vestido de chita, cercada de amigas com vestido de seda...

FUTURO POLÍTICO


Ele já declarou que será o próximo presidente da República, como se pudesse ler o futuro, que é um espelho sem vidro e só a Deus pertence. Eu acho que, numa lição de humildade, seria um nome muito forte para a sucessão da Luizianne na prefeitura de Fortaleza, cargo que já ocupou por 14 meses, no entardecer dos anos 80 (substituindo Maria Luíza Fontenele), ao qual renunciou para ser governador do Estado. Poderia voltar agora, e o fortalezense ganharia muito com isso.

Para a presidência da República, na atual conjuntura, parece-me muito difícil, embora em 2014 esteja apenas com 57 anos. Muito jovem, portanto, e  com muito fôlego para uma boa briga política. Luizianne não tem um nome à altura para disputar com ele, além do que o irmão, Cid, ainda estará no governo do Estado, fortalecendo-o. Mas Ciro tem a obsessão do Planalto, e pouco se lhe dá passar por novo vexame. Quem não arrisca...