quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Tempo.


Lembram deste soneto? Chama-se Conta do Tempo. O autor é Frei Antônio das Chagas (1631-1682). Antes de se tornar frei franciscano, chamava-se Antônio da Fonseca Soares. O nome dele está ligado ao Morro do Castelo, no Rio, onde ajudou a construir o Convento Santo Antônio. 


 Informações para os arquivos do leitor. Eis a íntegra:



Deus pede estrita conta do meu tempo
     E, eu vou do meu tempo, dar-lhe conta
      Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
               Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?

            Para dar minha conta feita a tempo,
             O tempo me foi dado e não fiz conta,
                 Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
                      Hoje quero acertar conta e não há tempo. 

                         O!... Vós que tendes tempo, sem ter conta,
                        Não gasteis vosso tempo em passatempo,
                        Cuidai enquanto é tempo, em vossa conta.

                             Pois, aqueles que sem conta, gastam tempo,
                           Quando o tempo chegar de prestar conta,
      Chorarão, como eu, o não ter tempo.

A morte de um jornal.

 Eu já vi um jornal nascer e já vi um jornal morrer. Tenho pronto os originais de um livro onde conto o nascimento do Diário do Nordeste, desde o primeiro minuto, até se tornar um dos mais importantes do país, fruto do último grande empreendimento do industrial Édson Queiroz. Mas só poderei publicar o trabalho depois de  autorizado pela autoridade maior do Grupo Queiroz, D. Yolanda, que não mostrou interesse pelo projeto e a quem me curvo porque sem a autorização dela não poderei ir adiante. Não recorri ao chanceler Airton Queiroz, porque se mãe dele não acolheu a idéia, evidente que ele não vai contrariá-la. Dei o assunto por encerrado. Mas os originais estão bem guardados. Quem sabe, um dia poderá . ser útil. Jornalismo é algo complicado.  Aprendi muito sobre jornais, principalmente em minha passagem pelo Diário Carioca, comandado por Pompeu de Sousa e Luís Paulistano, que modernizaram o jornal ao feitio dos americanos, a partir do famoso leed e da guilhotina do velho e pomposo “narizde cera” Mas vou ficando por aqui, porque comento fartamente o assunto no meu livro De cima da goiabeira (lançado este ano e já esgotado).

A morte de um jornal (II).

    Um dia, de repente, entra na redação do Diário Carioca,  perfumado, com cara de “agora quem manda aqui sou eu”, nada mais, nada menos que o deputado Ricardo Fiúza, cearense de nascimento, mas fixado em Recife, onde entrou para a política e tornou-se poderoso e rico. Lembram dele? Já morreu. Era um dos “anões do orçamento”, colega do João Alves, aquele parlamentar que, para justificar sua riqueza, afirmou cinicamente ter ganho 200 vezes na Loteria Esportiva. Caiu no ridículo, foi cassado (todos os envolvidos foram cassados) e entrou para o anedotário político.


   Fiúza demitiu meio mundo (eu permaneci e fui indicado pelo Gustavinho para escrever um relatório  sobre o dia-a-dia do jornal) e tratou logo de abrir uma sucursal do Diário de Notícias em Brasília. Mas começou a atrasar o pagamento acertado com o ministro Delfim. Atrasou, atrasou  e caiu fora sem pagar um vintém nem aos linotipistas. O gordo ficou furioso e mandou vender tudo do jornal, a partir do velho prédio de oito andares da Rua  Riachuelo, máquinas, móveis, tudo, até ter condições de liquidar a dívida com a Caixa Econômica.  O jornal circulou de 1930 a 1974, quando também, por força de perseguições da ditadura dos generais, deixou de circular o Correio da Manhã, o grande matutino de Paulo Bittencourt, inaugurado em 1901. Foi uma tristeza.

   Dali eu voltei para a Fundação Getúlio Vargas, onde já trabalhava, e passei a integrar a equipe que ganhou a licitação para reformar a estrutura administrativa da Polícia Rodoviária Federal em todo o país, o que nos levou a viajar Brasil afora e Brasil adentro. Trabalho monumental e gratificante, e haja fôlego para viagens intermináveis. Eu era o escrivão da frota e recebi um prêmio pelo estilo dos relatórios que tinha de escrever, mais ou menos em linguagem fora dos padrões do velho Dasp, quase que imitando aqueles do prefeito de Palmeira dos Índios (AL), Graciliano Ramos, dirigidos ao governador do Estado. Só depois dessa fase, voltei ao jornalismo, desta vez no Jornal do Brasil, um dos mais antigos periódicos do Brasil (1891), deixou de ser impresso em 2010 e agora só existe para o computador. No entanto, como dizem, a imprensa jamais deixará de ser o quarto poder de uma República. E lembro Paulo Francis (1930-1997): “O jornalismo é a segunda profissão mais antiga do mundo”.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Duelo de Titãs

 Até o momento, cinco ministros votaram a favor e cinco votaram contra os embargos infringentes, recursos que permite que 12 dos 25 condenados tenham direito a um segundo julgamento para certos crimes. A última sessão, quinta-feira passada, terminou empatada em 5 votos a 5. Na sessão de amanhã, o decano do Supremo, ministro Celso de Mello, decidirá a questão. Enquanto isso, ele vem sendo alvo de todo tipo de pressões, mas se trata de um ministro equilibrado, brilhante e com inatacável senso de responsabilidade, respeitadíssimo pelos próprios colegas no STF. Fica difícil de prever o que ocorrerá na sessão de amanhã. Ele lembrou que já tratou do tema em outras ocasiões. Qual será o seu chamado voto de minerva? Se favorável, haverá grande decepção na sociedade brasileira, e não há como evitar um grande desgaste para a corte maior da Justiça, a ponto de críticas duras como “no  Brasil o crime compensa”. O respeitável e inatacável presidente do Supremo e relator do processo, Joaquim Barbosa, certamente vai piorar de suas dores na coluna. Mas vamos esperar por Celso de Mello. Quem sabe, pode dar zebra.

Objetivo único.


 A última do marketing pago que diviniza Dilma: agora, enquanto o Nordeste morre de fome e de sede, a presidente  se preocupa com as loucuras da Síria e luta para fortalecer a ONU, em  fase de agonia. Ela é capaz de descalabros, contando que esteja na mídia. Vez por outra, muda um dos 39 ministros – eu disse 39, mas de repente já pode estar nos 40 – e chega a chorar quando cai  de popularidade, mesmo  no Nordeste, onde até hoje, em proporções absolutas, não fez nada, além dos manjados arranjos de todos os governos passados e presentes. O que fez ela para tanto? Deviam citar coisa por coisa. Parece que fabricam perguntas do tipo “qual é a metade de 2 + 2” ou aquela que já ouvíamos em criança: “Passam  dez bois aqui e o da frente olha para trás – quantos ele conta?” 

Ora, Dilma  só produz ministros, quando substitui os piores por outros piores ainda, valendo unicamente a votação que acompanha cada um, de modo a fortalecer a tal de base do governo, decisiva agora em 2014 para a reeleição dela, possivelmente derrubando as candidaturas de Eduardo Campos, Aécio e Marina,  as mais ferozes.  Não nos perguntem como vão as coisas entre ela e o PMDB, base de seu governo e o maior partido nas duas Casas do Congresso. Ela e Michel Temer andam às turras, porque não dá a mínima para os peemedebistas nem para seu próprio vice, que é presidente do PMDB.


O que tem feito Dilma pelo miserável Nordeste? Distribui remédio para gripe, diarréia e dengue, e mais uma cesta básica que está ao alcance das mãos dos exploradores de sempre. As empregadas domésticas, a partir de janeiro, passam a ganhar R$ 72. Notícia boa para elas, porém péssima para as donas de casa,  que terão de mandá-las para o olho da rua, por não ter como pagá-las. Não se iludam. Neste momento, num crescente incontrolável, Dilma só pensa na reeleição. Desvairadamente.  Com seu prestígio em queda, convém lembrar que   popularidade nada tem a ver com credibilidade.  E anda fumando charutos,quem sabe, de Havana...

Agonia


 Depois das pressões populares em quase todas as cidades do Brasil, envolvendo alguns confrontos perigosos entre policiais e pessoas do povo, o Planalto vê cair por terra a tal de PEC-73, que limitava os poderes do Ministério Público, a corrupção passou agora ao altar de crime hediondo e um plebiscito bem poderia decidir qual o melhor regime de governo para os brasileiros. Vale dizer: o povo tem de ir às ruas e exigir o que pretende para melhorar de vida (isso me faz lembrar o delicioso conto do maranhense Arthur de Azevedo, O plebiscito, publicado no Rio pela Editora Alhombra, em 1894). Ora, como todo mundo hoje sabe o que significa, sugeriram à presidente Dilma, a propósito da reforma política que estaria a caminho, que ela se utilizasse desse recurso constitucional para levar a debate o sistema que melhor atenda à nossa democracia. 


Nesse rolo da reforma política, entra o voto distrital, embora com resistência. “O voto distrital não cria líderes, só representantes medíocres”, diz um senador que não merece ser citado. Esse tipo de político esquece que todos os grandes estadistas do mundo floresceram no voto distrital. São os mesmos argumentos, os mesmos, utilizados  contra o conselheiro Saraiva e sua lei, há bem mais de 100 anos. “Favorece o abuso do poder  econômico”, garante ele. Ora, o voto proporcional foi abolido da Itália, como o maior responsável pela corrupção que varreu o país. Aqui, ele deu a CPI do orçamento, lembram? Quando vamos sair dessa armadilha que é o voto proporcional, o maior responsável pela crise política brasileira? Sem voto majoritário não há Parlamento forte. Sem Parlamento forte não há democracia forte.

Os partidos.

Reza a lenda que Washington, quando entregou o governo dos EUA, fez uma severa advertência contra os partidos políticos: “Cuidado com eles”. No Brasil,  esquecemos  que a política dos governadores, quando foi proposta por Campos Sales, era para evitar o domínio dos partidos. Na verdade, a tradição brasileira sempre foi contra os partidos. Gostamos mais de facções regionais, grupos,  alas, dissidências do que da unidade partidária. Mas o fato é que a democracia moderna não pode ser forte sem partidos fortes, organizados, com doutrina e programa. Se chegou a hora da reforma política, especialistas garantem que o voto proporcional, por exemplo, desintegra os partidos, faz a  proliferação deles. O voto majoritário, sim, é formador de partidos grandes, estáveis, capazes de dar estabilidade aos governos e realizar o grande sonho do governo democrático: alternância do poder.

Eis a verdade que nos recusamos  a aprender e ficamos a fazer leis para limitar partidos, controlar gastos eleitorais, fidelidade partidária, que apenas terminam numa grande farsa e no estímulo à hipocrisia. O mal está na raiz, o voto proporcional. Os mais idosos se lembram que foi o plebiscito de janeiro de 1963 que os brasileiros devolveram ao país o sistema presidencialista, quando os militares do golpe de 1964 queriam mesmo não era derrubar o presidente João Goulart, mas um pretexto para mergulhar o Brasil numa guilhotina que nos custou 21 anos de brutalidades, torturas, assassinatos e as desgraças que se seguiram ao AI-5, “o ato institucional das trevas”, como o chamava Afonso Arinos. Bom, o povo está na rua, protestando, protestando. Que a presidente Dilma  analise as razões. É pedir muito, não?

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Projeto mais médicos.

  Texto especial sobre esse projeto que tem tudo fadado ao fracasso. Os dados estão na revista Mobilização Médica. Para a grande maioria dos nossos médicos, o tal projeto é inconstitucional e fará mal para a saúde da população brasileira, à medida que permite a entrada de profissionais que não precisarão revalidar seus diplomas para prestar assistência médica. Além disso, analisa a revista, no site das entidades médicas os interessados em colaborar com essa luta encontrarão textos com  argumentos sólidos para convencer deputados e senadores e mostrar os prejuízos causados pela Medida Provisória 62//13. Enquanto escrevo estas mal traçadas, alguns parlamentares já declararam apoio à causa médica. 

Projeto  mais  médicos  (II)

A Associação Médica Brasileira diz: “O governo tenta induzir a população que a culpa no caos da saúde é falta de médicos. Engodo. Faz o projeto de forma autoritária, sem discutir com as universidades e entidades médicas. Quer mudar o curso médico, trazer médicos do exterior sem a Revalida e acabar com a residência médica.” É um absurdo o governo querer colocar nos médicos a culpa da incompetência da gestão em saúde. É um descalabro querer que a residência médica seja moeda de troca.  A sociedade precisa reagir  e mostrar ao governo  que não se promove saúde com autoritarismo e falta de planejamento. 


Projeto  mais  médicos   (III)

Neste momento, os médicos brasileiros pensam ser essencial a participação de toda a categoria, nem só em defesa dos direitos  da medicina, mas, principalmente, pelo respeito à população. A própria Federação Nacional dos Médicos afirma: “Atenção em saúde é permanente e não pode ser feita de forma provisória. Isto é inconstitucional e não pode ser resumido a uma medida paliativa de três anos.  É evidente e indiscutível que a MP 62 representa grave risco  à saúde da população e também vai piorar a qualidade dos cursos de medicina. Não iremos compactuar com propostas demagógicas, inexeqüíveis e que não irão solucionar os graves problemas do SUS, conquista maior da sociedade brasileira”. 


Projeto  mais  médicos   (IV) 

A verdade é que o Brasil investe muito pouco na saúde, mais do que na educação. É inaceitável que o país continue a destinar menos de 4% do PIB em saúde pública, abaixo de R$ 2 por dia por cidadão, percentual bem inferior ao de muitos países com menor desenvolvimento. Desenhada às pressas em tentativa desesperada de responder à insatisfação do povo em geral e de olho na reeleição  da presidente Dilma, o tal projeto nada mais é do que uma ação midiática e oportunista. Tivesse o mínimo de consistência, o governo não começaria a esquartejá-la dias após sua apresentação. Considerando que nos últimos exames de revalidação de diplomas, o índice de reprovação esteve em torno – pasmem – de 90% . Éprovável que nove em cada dez médicos “importados” não tenham condição para atender adequadamente os cidadãos – seriam os “especialistas” em gripe e diarréia. 

Projeto  mais  médicos    ( V )

 Por fim, cumpre acrescentar ser essencial a garantia de acesso à assistência médica de qualidade, universal e integral, sempre. Esta, a preocupação de nossos médicos. Infelizmente, tal meta jamais foi alcançada, principalmente pela falta de recursos, de financiamento adequado. Além disso, os médicos, no Brasil, sobretudo nos governos de Lula e agora com Dilma, “a segunda mulher mais influente do planeta”, conforme seus áulicos. Temos um gerenciamento ineficaz, com desperdício do já minguado dinheiro destinado à saúde pública. A corrupção é desenfreada, escandalosa, brutal. Além do que temos bons médicos Brasil afora, bem superiores aos importados. Têm de assumir dois-três empregos para sobreviver. Tudo que vem do PT acaba em fiasco ou corrupção, e o governo de Lula, em todas as áreas, foi ao index da roubalheira incontrolável. Foi ele que nos deu a pista: se Deus é brasileiro terá sido pelo motivo de haver morrido entre dois ladrões. Rezemos o Credo, gente!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Depois dos 80 km...

Sempre que ouço falar em Quixeramobim, esta cidade parece querer me dizer alguma coisa. Talvez Antônio Conselheiro, quem sabe Euclides da Cunha e até mesmo o saudoso presidente do Clube dos Abestados, a grande figura do médico universal, Pontes Neto, que vi muitas vezes pedir ajuda a Edson Queiroz para construir o hospital de lá. A velha cidade me cola a fantasmas. Passei, certa vez, um dia todo por lá, na casa do ex-ministro da Justiça de JK e de Geisel, que visitou seu ministro, como presidente, na fazenda “Massapé Grande”, enorme, bonita, com capela e tudo no azul e branco, assoalho em madeira nobre, limpo e brilhante que dava para a gente pentear o cabelo. 

O ex-ministro, dos mais bem informados do país, já sabia que Geisel seria substituído por João Figueiredo, o que acabou ocorrendo no Colégio Eleitoral de 1978 para a escolha do presidente por votação indireta. Figueiredo derrotou o general Euler Bentes Monteiro por 355 votos, todos da Arena. O concorrente, do MDB, 226 votos, uma votação acima da esperada, dadas as circunstâncias. Na chapa de Figueiredo, foi eleito o vice-presidente Aureliano Chaves, ex-governador do Estado de Minas Gerais. Aliás, era o candidato de Armando Falcão,  para substituir Figueiredo. Lutou por isso o quando pôde, mas as cartas já estavam marcadas.  Não havia mais o que fazer.

Foi um dia agradável na companhia do ex-ministro, cearense histórico, homem culto e um incomparável articulador político. Escreveu um livro – Tudo  a  Declarar – o avesso da resposta que geralmente tinha para nós, da imprensa, nos piores momentos dos anos de chumbo, quando os candidatos, em obediência à Lei Falcão, só podiam usar na tevê retratos 3X4 e alguns segundos para dizer as bobagens de sempre. Tem hora, por causa do candidatos de hoje, quase sempre meio imbecis, que a gente bem que sente falta da Lei Falcão. O que temos aí, no rádio e na tevê, é um horror, salvo duas-três exceções. Depois seguiram-se Tancredo, diretas-já, Sarney, aquilo que todos sabemos. 

O ex-ministro Armando Falcão me concedeu um entrevista tão importante que ganhou duas páginas inteiras no Diário do Nordeste, em duas edições seguidas. Achei linda, muito bem cuidada, a fazenda “Massapé Grande”. Tirei  foto de um tamarindeiro que tinha completado um século de vida e ganhou até placa da família. Alto, frondoso, belíssimo, cascas grossas que ajudou um botânico saber a idade da árvore. 

No final da tarde, Armando Falcão me levou até o carro, conversou com o motorista e observou: “Olhe, filho, aprenda: um carro, até os 80km, pertence ao motorista; dos 80 em diante, o motorista pertence ao carro, e a partir dos 120km, os dois pertencem ao diabo... 

Nunca esqueci a observação verdadeira. Eu só veria o ex-ministro mais uma vez, anos depois, no seu escritório na Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro. Depois, em duas ocasiões, conversamos pelo telefone. Polêmico, odiado, admirado, ele  morreu em fevereiro de 2010, aos 90 anos de idade, em seu apartamento carioca onde morava desde que deixou a atividade política.

FHC

 Foi um presidente elegante e culto. Devemos o real a ele, iniciado por Itamar Franco, mineiro nascido em águas da Bahia, mas foi registrado no cartório como mineiro de Juiz de Fora, cidade da qual foi prefeito e onde seus pais sempre moraram. Lá ele foi concebido, então se considerava mineiro, dos sapatos ao badalado topete.  Bom, mas falemos de FHC. Tinha uma mania curiosa: todos os dias, antes de se recolher, ele ditava para seu gravador tudo o que se passara nas últimas  24 horas, organizadamente. Foram mais de 5 mil páginas digitadas. Ele decidiu publicar tudo, mas somente depois de sua morte, para  que os políticos criticados por ele não tenham como respondê-lo. São dois ou três volumes. Ele também revela que antes de se recolher aos aposentos do Alvorada, apagava todas as luzes, “para evitar desperdícios”. 

Entrou para a história como o presidente do real. Em plena ditadura militar, foi preso – já não era presidente – encapuçado e interrogado com gritos e indelicadezas pelos famigerados membros da ditadura militar. Não chegou ao “pau de arara” por milagre. Hoje, aos 83 anos, ainda filiado ao PSDB, tem se esforçado pela dobradinha Aécio e Eduardo Campos. Acha que  Marina Silva não conseguirá registrar seu partido e ela mesma desafiar a presidente Dilma para o confronto de 2014. Ele diz nos bastidores que se o candidato for Lula, este perderá as eleições. O “sapo barbudo” está envelhecido e não tem saúde para suportar uma eleição presidencial. Perdeu muito daquele formidável líder metalúrgico. 

Os que têm o privilégio de ouvi-lo nas palestras que tem dado mundo afora, o consideram lúcido e brilhante. Convites lhe sobram. Viúvo da D. Ruth, que era antropóloga, estudiosa e de idéias modernistas, tenho ter sido a mais respeitável primeira-dama do Brasil. Era um ano mais velha que o marido, com  quem começou a namorar ainda adolescente. Daqui a 50 anos, ao lado de Getúlio e JK, provavelmente ainda será lembrado como “o presidente do real e criador da reeleição até dois mandatos. Prestem atenção – tudo o que ele diz, em suas pregações, repercute na mídia e nas maiores lideranças deste país onde o céu azul é mais azul.

Casamento

 Eu tenho uma seleta coleção de filosofia de pára-choque (escrevo na velha ortografia, e a nova que se dane). Os velhinhos da Academia de Letras, juntos com os velhinhos da Academia de Lisboa, como não têm o que fazer, ficam a inventar essas bobagens. Pois eu quero dizer que dessa coleção tenho minhas prediletas. E aí vai ela – Um velhinho de 90 anos se casou com uma velhinha de 89. Sabem o que aconteceu? Passaram a lua-de-mel tentando sair do carro....

Sem Simpatia

  Não sei explicar, mas não tenho a menor simpatia pela presidente Dilma. Não vejo sinceridade no que diz e creio que por trás de seu sorriso sem graça não há mais do que uma carreira de dentes. Pode até ser uma figura cheia de boas intenções, mas não chegam a esconder que o que lhe interessa mesmo:  ser  reeleita no pleito do próximo ano. Não reconhece exageros quando  forma um ministério-centopeia de 39 ministros, que se subdividem em incontáveis assessores, secretárias, aspones etc., tudo às custas do bolso de contribuinte. Há ministros que ela só vê uma, duas vezes por ano. Não os conhece e nada sabe do que fazem, porque a  grande maioria não faz nada. 

Há um choque permanente entre Dilma e seu vice, Michel Temer, presidente do PMDB, partido sempre de punhos cerrados contra ela, que não dá a mínima ao pessoal comandado pelo vice e presidente do maior partido nas duas Casas do Congresso. Ela esquece um ponto importante. Temer não é vice da Dilma. Ele é vice da República do Brasil, e foi esse detalhe que favoreceu Sarney com a morte de Tancredo. No dia que ele perder a paciência, será o estouro da boiada, Ao que tudo indica, Dilma nem ouve mais o Lula, que está em casa, ocioso, engordando e tratando da saúde ainda em fase de certos cuidados. Os brasileiros não esquecem: os oito anos de Lula presidente foram montados na pior onda de corrupção na história do Brasil, deixando Collor com cara de monge ou beato do Nordeste. Sei não. Acho que reeleger Dilma é deixar 220 milhões de brasileiros a abanar carvão molhado.

MAIS MÉDICOS

  Segundo se informa, temos 700 municípios nos quais não existe sequer uma farmácia.  Esse projeto, o podem esperar, será um dos maiores fiascos no trato com a saúde do brasileiro.  E nenhum  deles, notadamente os de Cuba, podem pedir asilo às nossas embaixadas, porque serão demitidos do programa e despachados ao país de origem. Os médicos de Cuba não puderam trazer as famílias, que ficaram lá como reféns, como garantia para que todos, por aqui, se comportem bem direitinhos. 

Para complicar, a revalidação do diploma médico só será aceito se cumprir algumas exigências, como mostrar competência na área em que vão atuar e falar a língua portuguesa sem qualquer embaraço. Tudo que vem de Havana deixa pulgas na orelha, pois estamos lidando com a mais longa ditadura do planeta, São escravos de Fidel e do irmão dele, Raul, que dizem que é “bicha” declarada. Corre uma versão de que Fidel já morreu, mas a revelação está à espera de uma oportunidade “mais suave”. Até lá, nas aparições de longe, é usado um sósia calado, silencioso. O original já teria ido para as profundas.

 No todo, esse projeto do Mais Médicos tem tudo para não resolver  nada. A adaptação ao desmoralizado SUS do Brasil não pode ser levada a sério, por ser um dos piores do mundo. Aqui os doentes morrem nos corredores dos hospitais por falta de leitos e de médicos, e os planos de saúde, com uma ou duas exceções, não cumprem o que está no contrato. Os dependentes do SUS são os melhores clientes das funerárias que vivem às turras por um cadáver. Êh,  Brasil velho sem porteira!!! 

Os jornais estão cheios de anúncios de prefeituras, oferecendo até R$ 15 mil reais para o médico que aceitar se fixar por lá.Mas como? Tem casa boa pra morar, bons colégios para os filhos, cinema, computador, internet? Não aparece um único candidato. Os mais desesperados vão, porém  passam um mês ou dois, no máximo, e pedem o boné. O ministro da saúde, Alexandre Padilha, vai envelhecer pelo menos dez anos neste governo “da mulher mais influente do planeta”. Afinal, o que dá pra rir, dá pra chorar...