Conheci um idoso, até simpático. A gente se encontrava vez por outra, sempre na mesma livraria. Era infeliz, pelo que eu sabia a seu respeito, e ele mesmo pouco se lixava em mostrar sua infelicidade. Já passava dos 80 anos. Ou seja, bem além do termo da vida previsto pelas Escrituras. Irá aos 90. Quem sabe, aos 100. Entretanto, longe de ser um prêmio, a vida para ele é um castigo. Veio ao mundo para testemunhar as vitórias alheias, e isso o maltrata, o machuca, tira-lhe o sono.
Só tem um consolo – acompanhar o enterro de seus contemporâneos. De manhã, quando abre o jornal, vai diretamente à página do obituário, para ver quem deu baixa. Ganhou o dia, se tem velório à vista. Abre um largo sorriso. Todos o conhecemos. Dou-lhe o nome? Não. Não merece.