quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A moenda

 Eis um dos mais belos sonetos que conheço. O autor é o poeta piauiense Da Costa e Silva, nascido na cidade de Amarante, a 160km de Teresina, onde estudou o primário e o antigo ginásio. Ele é o autor da letra do Hino do Piauí (“Piauí, terra querida / Filha do sol do Equador”...), chamava-se Antônio Francisco da Costa e Silva. Nasceu em novembro de 1885, formou-se advogado em Recife, foi funcionário graduado do Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1950, aos 65 anos. Membro da Academia Piauiense de Letras e consagrado Príncipe dos Poetas Piauienses, o soneto é simplesmente genial. Leiam e julguem:



Na remansosa paz da rústica fazenda
À luz quente do sol e à fria luz do luar 
Vive, como a expiar uma culpa tremenda
O engenho de madeira a gemer e a chorar 

 Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda 
E ringindo e rangendo a cana a triturar 
Parece que tem alma, adivinha e desvenda 
A ruína, a dor, o mal que vai talvez causar... 

 Movida pelos bois tardos e sonolentos 
Geme, como a exprimir, em doridos lamentos 
Que as desgraças por vir sabe-as todas de cor 

 Ai! dos teus tristes ais! Ai! moenda arrependida! 
Álcool! Para esquecer os tormentos da vida 
E cavar, sabe Deus, um tormento maior!