quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A morte de um jornal (II).

    Um dia, de repente, entra na redação do Diário Carioca,  perfumado, com cara de “agora quem manda aqui sou eu”, nada mais, nada menos que o deputado Ricardo Fiúza, cearense de nascimento, mas fixado em Recife, onde entrou para a política e tornou-se poderoso e rico. Lembram dele? Já morreu. Era um dos “anões do orçamento”, colega do João Alves, aquele parlamentar que, para justificar sua riqueza, afirmou cinicamente ter ganho 200 vezes na Loteria Esportiva. Caiu no ridículo, foi cassado (todos os envolvidos foram cassados) e entrou para o anedotário político.


   Fiúza demitiu meio mundo (eu permaneci e fui indicado pelo Gustavinho para escrever um relatório  sobre o dia-a-dia do jornal) e tratou logo de abrir uma sucursal do Diário de Notícias em Brasília. Mas começou a atrasar o pagamento acertado com o ministro Delfim. Atrasou, atrasou  e caiu fora sem pagar um vintém nem aos linotipistas. O gordo ficou furioso e mandou vender tudo do jornal, a partir do velho prédio de oito andares da Rua  Riachuelo, máquinas, móveis, tudo, até ter condições de liquidar a dívida com a Caixa Econômica.  O jornal circulou de 1930 a 1974, quando também, por força de perseguições da ditadura dos generais, deixou de circular o Correio da Manhã, o grande matutino de Paulo Bittencourt, inaugurado em 1901. Foi uma tristeza.

   Dali eu voltei para a Fundação Getúlio Vargas, onde já trabalhava, e passei a integrar a equipe que ganhou a licitação para reformar a estrutura administrativa da Polícia Rodoviária Federal em todo o país, o que nos levou a viajar Brasil afora e Brasil adentro. Trabalho monumental e gratificante, e haja fôlego para viagens intermináveis. Eu era o escrivão da frota e recebi um prêmio pelo estilo dos relatórios que tinha de escrever, mais ou menos em linguagem fora dos padrões do velho Dasp, quase que imitando aqueles do prefeito de Palmeira dos Índios (AL), Graciliano Ramos, dirigidos ao governador do Estado. Só depois dessa fase, voltei ao jornalismo, desta vez no Jornal do Brasil, um dos mais antigos periódicos do Brasil (1891), deixou de ser impresso em 2010 e agora só existe para o computador. No entanto, como dizem, a imprensa jamais deixará de ser o quarto poder de uma República. E lembro Paulo Francis (1930-1997): “O jornalismo é a segunda profissão mais antiga do mundo”.