Um dia, de repente, entra na
redação do Diário Carioca, perfumado, com cara de “agora quem manda aqui
sou eu”, nada mais, nada menos que o deputado Ricardo Fiúza, cearense de
nascimento, mas fixado em Recife, onde entrou para a política e tornou-se
poderoso e rico. Lembram dele? Já morreu. Era um dos “anões do orçamento”, colega
do João Alves, aquele parlamentar que, para justificar sua riqueza, afirmou
cinicamente ter ganho 200 vezes na Loteria Esportiva. Caiu no ridículo, foi
cassado (todos os envolvidos foram cassados) e entrou para o anedotário
político.
Fiúza demitiu meio mundo
(eu permaneci e fui indicado pelo Gustavinho para escrever um relatório
sobre o dia-a-dia do jornal) e tratou logo de abrir uma sucursal do Diário de
Notícias em Brasília. Mas começou a atrasar o pagamento acertado com o ministro
Delfim. Atrasou, atrasou e caiu fora sem pagar um vintém nem aos
linotipistas. O gordo ficou furioso e mandou vender tudo do jornal, a partir do
velho prédio de oito andares da Rua Riachuelo, máquinas, móveis, tudo,
até ter condições de liquidar a dívida com a Caixa Econômica. O jornal
circulou de 1930 a 1974, quando também, por força de perseguições da ditadura
dos generais, deixou de circular o Correio da Manhã, o grande matutino de Paulo
Bittencourt, inaugurado em 1901. Foi uma tristeza.
Dali eu voltei para a Fundação Getúlio Vargas, onde já trabalhava, e passei a
integrar a equipe que ganhou a licitação para reformar a estrutura
administrativa da Polícia Rodoviária Federal em todo o país, o que nos levou a
viajar Brasil afora e Brasil adentro. Trabalho monumental e gratificante, e
haja fôlego para viagens intermináveis. Eu era o escrivão da frota e recebi um
prêmio pelo estilo dos relatórios que tinha de escrever, mais ou menos em
linguagem fora dos padrões do velho Dasp, quase que imitando aqueles do prefeito
de Palmeira dos Índios (AL), Graciliano Ramos, dirigidos ao governador do
Estado. Só depois dessa fase, voltei ao jornalismo, desta vez no Jornal do
Brasil, um dos mais antigos periódicos do Brasil (1891), deixou de ser impresso
em 2010 e agora só existe para o computador. No entanto, como dizem, a imprensa
jamais deixará de ser o quarto poder de uma República. E lembro Paulo Francis
(1930-1997): “O jornalismo é a segunda profissão mais antiga do mundo”.