É indispensável a leitura de Os Sertões, de Euclides da Cunha. É culto e não é modelo de estilo. Seu livro é de gênio. Nos dá a realidade do sertão, que é, para efeitos políticos, o Brasil quase todo, tirando o Sul. A realidade do sertanejo, e do nosso atraso como civilização, como cultura, como organização do Estado. Está tudo ali com perfeição.
Euclides começou o livro para destruir o cearense Antônio Conselheiro e a Revolta dos Canudos, mas se deixou emocionar pela coragem e persistência dos revoltosos e terminou escrevendo um grande épico, em prosa, que o crítico e poeta americano Robert Lowell, que só leu a tradução, considera superior a Guerra e Paz, de Tolstoi. É majestoso e passional, ao mesmo tempo.
Vemos como nunca vimos e nunca mais veremos a condição humana desses pobres-diabos de Antônio Conselheiro. Contra a nossa vontade, sentimos a inevitabilidade de tudo aquilo e nos identificamos emocionalmente com os revoltosos.