Genial escritor nascido no Maranhão (1886-1934), Humberto de Campos, autor de mais de 40 obras e membro da ABL aos 33 anos, foi o autor mais lido de sua época e um dos exemplos mais expressivos do quanto pode o talento congênito aliado à perseverança no estudo e no trabalho. Antes de tudo, um brilhante gozador, como podemos vê-lo em seu Diário Secreto, publicado depois de sua morte. É um dos meus permanentes autores de cabeceira desde a juventude distante.
Um dia, numa livraria do Rio, Viriato Correia, colega de academia e maranhense como ele, contou-lhe a história de um burro de Pirapemas que se punha a zurrar, no Largo da Matriz, todas as vezes que o vigário se inflamava no sermão de domingo. Humberto riu muito e disse a Viriato que ia aproveitar essa história num artigo.
E, de fato, aproveitou-a, mas a seu jeito gozador. Vejam o que disse ele no remate do artigo:
-- Desde que ouvi este caso, não posso ver um burro sem me lembrar do Viriato...
Vítima de uma irregularidade na hipófise, uma pequena glândula situada no meio do crânio, responsável pelo comando de tantas funções importantes no corpo, o que lhe provocava sofrimentos terríveis, inclusive uma quase cegueira, o escritor foi convencido por seus médicos a se submeter a uma delicada cirurgia. Eram cinco médicos a seu redor. Um deles, antes de iniciar a operação, perguntou se o escritor estava com medo. Humberto respondeu com um riso de canto de boca:
-- Claro, são cinco contra um...
Morreu durante uma cirurgia, na Casa de Saúde Dr. Eiras, em Botafogo. Tinha 48 anos.