sábado, 8 de janeiro de 2011

O CONSELHEIRO


Toda a gente quer ser moça, mesmo quando ilude os outros pintando os cabelos. No íntimo só engana a si próprio. As pernas cansam, as juntas estalam, sobrevém um certo tédio diante das novidades. E num canto, a sós, suspira pelos dias de outrora, com aquela saudade de si mesmo a que se referiu Machado de Assis no Memorial de Aires.

Ao morrer, Machado tinha 69 anos, e era bem um velho, na compostura, no traje, nos cabelos, na barba, no pincenê de trancelim. Queria ser conselheiro. O Conselheiro Machado de Assis. Tardando o título, por distração do imperador, deu-o a seu derradeiro personagem, o Conselheiro Aires, alter-ego do diplomata que seu autor poderia ter sido.